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Mostrando postagens de 2013

Capitu: traidora ou traída?

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Narrado em 1º pessoa por um narrador-personagem, que se coloca como escritor, a história de Dom Casmurro tem como primeira chave para tentarmos nos aproximar de seu enigma a própria figura deste que ao mesmo tempo a vive e relata. Assim, para a crítica tradicional, há um relacionamento paradoxal com Escobar, que sendo amigo era também um fantasma na vida conjugal, pois Bentinho acreditava que ele era o amante de Capitu. Acredita no sentimento antagônico em relação ao filho Ezequiel, por sua suposta semelhança com Escobar. Assim, a questão do adultério é muito forte, além de ser o único detalhe estudado. Por conseguinte, a tradição só aborda a temática da traição. Por outro lado, é notado, além desta visão outras mais abrangentes, ao qual diz que Machado nos mostra – sob a agitação sentimental do primeiro plano, a presença de interesses sociais relacionados à organização e à crise da ordem patriarcal – um universo bolorento e recalcado onde vivia Dona Glória, com seus viúvos,

Psicanálise em debate: A IMPORTÂNCIA DA CULPA EM DOM CASMURRO, de Machado de Assis

DOM CASMURRO é justificadamente um dos livros mais elogiados de Machado de Assis, fazendo parte de sua trilogia de ouro, juntamente com MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS e QUINCAS BORBA. Por muito tempo, os comentários sobre esse livro se centravam na personagem Capitu, mulher de Bento Santiago, o solitário narrador que relata suas dúvidas quanto a fidelidade de sua amada. Capitu, a de “olhos de ressaca”, aquela que tem “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, foi submetida a inúmeros processos nos quais os críticos avaliavam sua culpa ou inocência. Mais recentemente, o enfoque mudou. Afastou-se da suposta traição de Capitu e incidiu sobre os ciúmes de Bentinho, na medida em que se atentou para o fato de que o que é apresentado é o relato deste último, necessariamente enviesado e muito diferente do que seria o de um narrador onisciente, que nos contaria com imparcialidade a verdade dos acontecimentos. Isso proporcionou uma reviravolta, retirando Capitu do centro das atenções e a

Análise do Conto: Pai contra Mãe

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                   1.   Introdução A produção do contista Machado de Assis se inicia em 1858 (com Três tesouros perdidos ) e estende-se aos inícios do século XX, com a produção de quase 300 contos, publicados nos jornais e revistas da época. “ O conto se tornou em suas mãos matéria dúctil, com fisionomia reconhecível, na qual [...] exercia a magia encantatória de suas variações sobre o tema predileto: a humanidade com seus vícios intemporais. ” Embora o conto literário já viesse se firmando no Brasil a partir de meados do século XIX, com Álvares de Azevedo e Bernardo Guimarães, é com Machado de Assis que essa forma ficcional revela todas as suas possibilidades. Reconhecido como o maior prosador da literatura brasileira, a produção de seus romances marcada pela habilidade de construir textos mesclados da ironia nascida da observação da sociedade em que vivia, é principalmente como contista que se revela um narrador capaz de prender e conduzir a atenção d

Chico Boarque de Holanda: CHAPEUZINHO AMARELO

Era a chapeuzinho amarelo. Amarelada de medo. Tinha medo de tudo,aquela chapeuzinho. Já não ria. Em festa não aparecia. Não subia escada, Nem descia., Não estava resfriada, mas tossia. Ouvia conto de fada e estremecia. Não brincava mais de nada, nem amarelinha. Tinha medo de trovão. Minhoca,pra ela,era cobra. E nunca apanhava sol, porque tinha medo de sombra. Não ia pra fora pra não se sujar. Não tomava banho pra não descolar. Não falava nada pra não engasgar. Não ficava em pé com medo de cair. Então vivia parada, deitada ,mas sem dormir, com medo de pesadelo. Era a chapeuzinho amarelo.

Resumo sobre: Figuras de Linguagem

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1. Denotação e Conotação Uma palavra ou signo compreende duas polaridades: o significado ( aspecto conceitual, a imagem mental abstrata) e o significante (aspecto concreto, gráfico, a imagem acústica). Assim, todas as palavras são signos, desde que apresentem essas duas faces. Um mesmo signo pode apresentar significados diversos, conforme o contexto em que empregamos. O significado de uma palavra não é somente aquele dado pelo dicionário (denotativo), mas pode adquirir outros significados mais criativos (conotativo). A essa pluralidade de significados dá-se o nome de polissemia. Por fim, se queremos ser objetivos no que redigimos, precisamos utilizar a linguagem denotativa – essa é a linguagem ao qual encontramos no dicionário. Já, quando queremos evocar ideias através do filtro da nossa emoção, da nossa subjetividade, temos a conotação , que corresponde a uma transferência do significado usual para um sentido figurado. 2. Figuras de Linguagem Figuras d