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Mostrando postagens de 2009

Análise do poema de Drummond

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Resíduo Carlos Drummond de Andrade De tudo ficou um pouco Do meu medo. Do teu asco. Dos gritos gagos. Da rosa ficou um pouco Ficou um pouco de luz captada no chapéu. Nos olhos do rufião de ternura ficou um pouco (muito pouco). Pouco ficou deste pó de que teu branco sapato se cobriu. Ficaram poucas roupas, poucos véus rotos pouco, pouco, muito pouco. Mas de tudo fica um pouco. Da ponte bombardeada, de duas folhas de grama, do maço- vazio - de cigarros, ficou um pouco. Pois de tudo fica um pouco. Fica um pouco de teu queixo no queixo de tua filha. De teu áspero silêncio um pouco ficou, um pouco nos muros zangados, nas folhas, mudas, que sobem. Ficou um pouco de tudo no pires de porcelana, dragão partido, flor branca, ficou um poucode ruga na vossa testa, retrato. Se de tudo fica um pouco, mas por que não ficaria um pouco de mim? no trem que leva ao norte, no barco, nos anúncios de jornal, um pouco de mim em Londres, um pouco de mim algures? na consoante? no poço? Um pouco fica oscilando

Os Sapos – Manuel Bandeira

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Enfunando os papos, Saem da penumbra, Aos pulos, os sapos. A luz os deslumbra. Em ronco que aterra, Berra o sapo-boi: - "Meu pai foi à guerra!" - "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". O sapo-tanoeiro, Parnasiano aguado, Diz: - "Meu cancioneiro É bem martelado. Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos! O meu verso é bom Frumento sem joio Faço rimas com Consoantes de apoio. Vai por cinqüenta anos Que lhes dei a norma: Reduzi sem danos A formas a forma. Clame a saparia Em críticas céticas: Não há mais poesia, Mas há artes poéticas . . . "Urra o sapo-boi:- "Meu pai foi rei" - "Foi!" - "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!" Brada em um assomo O sapo-tanoeiro: - "A grande arte é como Lavor de joalheiro. Ou bem de estatuário. Tudo quanto é belo, Tudo quanto é vário, Canta no martelo. "Outros, sapos-pipas (Um mal em si cabe), Falam pelas tripas: - "Sei!&

O Modernismo

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Um Clima Estético e Psicológico O Modernismo surgiu no século XX e foi tido, então, como um código novo, bem diferente aos códigos parnasiano e simbolista. “Moderno” é um vocábulo ambíguo, para não dizer polissêmico. Designa o contemporâneo de quem fala ou escreve. Neste momento aconteceram várias mudanças na literatura, não só no Brasil, mas também na Europa. Juntamente com a semana de 22, vinha também a I Guerra Mundial. A literatura estava em crise, tais notícias foram trazidas por escritores brasileiros, onde conheceram famosos poetas e pintores, alguns futuristas. Introdução A Semana de Arte Moderna ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, tendo como objetivo mostrar as novas tendências artísticas que já vigoravam na Europa. Esta nova forma de expressão não foi compreendida pela elite paulista, que era influenciada pelas formas estéticas européias mais conservadoras. O idealizador deste evento artístico e cultural foi o pintor Di Cavalcanti .

Realismo, Naturalismo, Simbolismo e Parnasianismo

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O que estava acontecendo na Europa Antes de falarmos do realismo, voltemos um pouco ainda no romantismo. Como sabemos, o romantismo encontrava na cultura francesa condições favoráveis de enraizamento e propagação, mas suas breves conquistas não alçaram de todo vencer os remanescentes clássicos, nem mesmo os movimentos de idéias gerados mediante a Revolução Francesa. O romantismo extremou-se no culto do sentimento e da Natureza: isso se dá por volta de 1820. O Realismo surgiu em meados do século XIX, primeiramente com a pintura, na França. Foi em mãos de Vitor Hugo, Gaultier, Musset, assim como na escrita também. Gustave Coubert, entre 1850 e 1851, expôs no salão: O Enterro em Ornans, e em 1853 , As Banhistas, que causaram estranhamento e recusa, por serem telas escandalosas. Revoltado, abre sua própria exposição. Posteriormente, numa conferência em Arvers (1861), o pintor acrescentaria: “o núcleo do Realismo é a negação do ideal. O Enterro em Ornans foi o enterro

Dom Casmurro

O romance: Dom Casmurro Dom Casmurro assinala o momento em que o escritor e o romancista se consorciam equilibradamente, graças à harmonia entre o estilo e a imaginação. Se antes deste romance o escritor tendia a prevalecer, e se, depois dela, o memorialista entraria a preencher o vácuo da fantasia criadora, – em Dom Casmurro se observa a íntima fusão das duas vertentes machadianas. De onde ser a obra-prima de romances, e das mais altas expressões da ficção brasileira de todos os tempos. É que, abandonando o recurso fácil de inserir na fábula romanesca o plano transcendental ou absurdo, como fizera antes, Machado invade o recesso das consciências e das situações em busca dos móbeis profundos para os atos cotidianos. Aproxima-se da realidade, pratica o realismo que, sem deixar de ser interior, afasta o delírio e a loucura e imerge nos enigmas que o dia-a-dia mais banal esconde: que mais enigmático que o mundo? Conseqüentemente, as personagens despem-se do ar de metáforas, humanizam-se,