Notícias de Jornal: Semana de Arte Moderna
1. Introdução
P
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olêmicas
divulgadas na imprensa no decorrer do ano de 1922, quando um pequeno grupo de
artistas e escritores, liderados por Oswald de Andrade e Mário de Andrade,
difamava as nossas glórias artísticas ditas de “praça pública”, em razão da imitação
servil, ou, como era alardeado, da “cópia sem coragem e sem talento”. Contra
“esses falsos mitos” e, sobretudo, na busca da emancipação cultural
levantava-se o então chamado futurismo paulista, a quem a respeitabilidade de
Graça Aranha dera “a mão forte”. Aos gritos de “Independência! Originalidade!
Personalidade!” começou-se a mudar o panorama das nossas artes. Através de
propostas controvertidas, o “caloroso tumulto de idéias” teve sua primeira face
pública com a Semana de Arte Moderna, realizada de 13 a 18 de fevereiro de
1922.
Essa Semana tão comemorada não inaugurou o movimento, foi
apenas a festa planejada para anunciar o engatinhar de uma nova mentalidade, e
os resultados vibrado em silêncio com as ousadias de O Homem Amarelo e de A Boba,
de Anita Malfatti, depois de um longo processo de aprendizagem sobre arte
moderna e de arregimentação de novos companheiros. NA sua coluna no jornal do Commercio (1921), Oswald
vislumbrava em São Paulo, a formação de um “núcleo de reação ao caruncho dos
processos acadêmicos da literatura e arte”. Artistas e escritores também
encontram na Semana uma maneira adequada de comemorar os cem anos da
Independência política do Brasil, conforme também havia anunciado Oswald: “Um
pugilo pequeno, mas forte, prepara-se para valer o nosso Centenário”.
Arte
Moderna
(Terno
Idílio[1])
A Gazeta concede-me benfeitora as suas páginas
para que nelas diga sobre a Semana de Arte Moderna. Quero, antes de mais nada,
exaltar a magnanimidade com que me acolhe a redação. Por um mal-entendido de
crítica foram violentamente separados há dois anos, eu, plumitivo incipiente, e
A Gazeta, senhora de nobre e popular
carreira.
(...) Apenas me permito retificar uma pequena confusão de
Cândido. O que vai realizar-se é bem uma Semana de Arte Moderna. (...)
Desejamos apenas ser atuais. (...) Há exageros em nossa arte? É natural. Não se
constrói um aranha-céu sobre um castelo moçárabe. Derruba-se primeiro a mole
pesadíssima dos preconceitos, que já foram verdades, para elevar depois outras
verdades, que serão preconceitos para um futuro, quiça muito próximo. (...)
Depois do pranto de todo um século romântico, “coroado” nos espinhos duma
guerra tremenda, queremos rir e livremente rir! Batam os sinos! É sábado de
aleluia! Não me pesa ser o Judas desse sábado, contanto que me deixem sorrir
aos leitores d’A Gazeta, no dia que
refloresce para mim o terno idílio.
Mário de Andrade
A Gazeta, São Paulo, 3 de fevereiro de 1922,
p.1 (coluna “Notas de Arte”).
O
Futurismo
(...) Não foi, pois, sem um certo regozijo íntimo que vimos
ontem a assinatura do Sr. Mário de Andrade na mesma coluna que colaboramos,
discretamente sobre o reatamento de suas relações com A Gazeta e prometeu dizer os intuitos da próxima Semana de Arte
Moderna.
(...) Ao tratarmos da questão futurista, não nos move
felizmente nenhum preconceito de escola ou qualquer animosidade pessoal. Em
matéria de arte, acima dos agrupamentos, das escolas ou das chamadas
igrejinhas, colocamos a personalidade do artista e o cunho original que ele
imprimir à sua obra.
Pondo, porém, de lado esse conceito a que não podemos dar
hoje o desenvolvimento devido, aqui deixamos consignados novamente os nossos
votos de boas-vindas ao Sr. Mário de Andrade.
Cândido
A Gazeta, São Paulo, 4 de fevereiro de 1922,
p.1 (coluna “Notas de Arte Futurista”).
A
Semana Futurista
A Semana de Arte Moderna, a realizar-se proximamente no
Teatro Municipal, vem agitando de tal forma o nosso meio artístico e
intelectual que se conservar alheio a esse movimento seria dar provas de um parti pris que não se coaduna
absolutamente com o grau de progresso e que atingiu a imprensa moderna.
A Gazeta, que tem acompanhado com interesse
todas as questões que se levantam em nossos centros artísticos e intelectuais,
inicia hoje a publicação da colaboração do Sr. Mário de Andrade em defesa da
arte moderna, ao mesmo tempo insere a continuação da série de considerações que
Cândido vem fazendo acerca do futurismo.
Dito isto, inútil se torna acrescentar as nossas colunas
continuam abertas a quantos quiserem discutir o assunto em debate.
A Gazeta, São Paulo, 3 de fevereiro de 1922,
p.1.
O
Vagabundo Borra-Telas[2]
(...) Fica por aí, copiando oleografias, sem cultura, sem
estudos, sem orientação. É quando uma Malfatti, depois de honrar o nome
brasileiro nos mais adiantados ateliês do Velho Mundo e do Novo Mundo,
apresenta o fruto glorioso de seus estudos, de sua severa aplicação, de sua
rigorosa pesquisa estética, é ele o vagabundo borra-telas, o mais irritado, o
mais nervoso e o mais maldizente que aparece.
Os outros, os indiferentes, os negocistas, as senhoras que
sabem se vestir, as meninas que estudam álgebra, esses ouvem fazer naquilo ao
jantar e apóiam. Formada a corrente, explode a bombarda no primeiro atrevimento
jornalístico. E fica decidido que a cidade e o país continuarão a pensar com
atraso, a sentir com atraso, a ver com atraso.
O benefício feito agora pela cultura de Graça Aranha e Paulo
Prado, os verdadeiros organizadores de arte moderna que se prepara no
Municipal, era urgente.
(...) Já não se dirá, depois do veredicto de Graça Aranha,
que a de Mario de Andrade, a pintura de Di Cavalcanti, a escultura de Brecheret
e a música de Villa-Lobos são casos de excepcionabilidade mórbida ou
reclamista. E a Semana de Arte Moderna virá mostrar como esses espíritos de
vangarda são apenas os guias de um movimento tão sério que é capaz de educar e
curá-lo do analfabetismo letrado em que lentamente vai para trás.
Oswald de Andrade
Jornal do Commercio, São Paulo, 9 de fevereiro de 1922,
PP. 5 e 6 (coluna “Semana de Arte Moderna”).
2.
Semana em Notícia
Semana
de Arte Moderna
A Semana de Arte Moderna continua a despertar entusiasmo e
curiosidade em nossas rodas artísticas e sociais. A primeira récita, que se
realizará amanhã, no Municipal, será o início de uma série de espetáculos que,
pelo seu cunho artístico, promete ficar memorável em nosso meio.
Correio Paulistano, São Paulo, 12 de fevereiro de 1922,
p. 6.
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