O Realismo





Antes de falarmos do realismo, voltemos um pouco ainda no romantismo. Como sabemos, o romantismo encontrava na cultura francesa condições favoráveis de enraizamento e propagação, mas suas breves conquistas não alçaram de todo vencer os remanescentes clássicos, nem mesmo os movimentos de idéias gerados mediante a Revolução Francesa.
O romantismo extremou-se no culto do sentimento e da Natureza: isso se dá por volta de 1820.
O Realismo surgiu em meados do século XIX, primeiramente com a pintura, na França. Foram em mãos de Vitor Hugo, Gautier, Musset, assim como na escrita também. Gustave Coubert, entre 1850 e 1851, expôs no salão o Enterro em Ornans, e, em 1853, As Banhistas, que causaram estranhamento e recusa, por serem telas escandalosas. Revoltado, abre sua própria exposição. Posteriormente, numa conferência em Arvers (1861), o pintor acrescentaria: “o núcleo do Realismo é a negação do ideal. O Enterro em Ornans foi o enterro do Romantismo”.
Em 1848, Henri Murger publicou em folhetins as Cenas da Vida Boêmia, onde focalizou os costumes da burguesia.
O Realismo veio com força, na França, em 1857 com os romances Madame Bovary, de Flaubert, e As Flores do Mal, de Baudelaine, com crítica à hipocrisia burguesa.
Dez anos depois, Zola introduzia o romance naturalista com Thérèse Raquin.
A revolução, fevereiro de 1848, na França, surgiu Karl Marx com O Manifesto Comunista, a uma longa obra de análise da Burguesia e do Capitalismo, de impacto ainda vivo. Renan escreve O Futuro da Ciência (inédito até 1890).
Surge Taine, onde se tornou “o verdadeiro filósofo do Realismo, seu teórico; foi ele que deu a fórmula do positivismo em matéria literária”.
Darwin (1859), com A Origem das Espécies, propondo a seleção natural como fator decisivo na evolução das espécies. A Introdução ao Estudo da Medicina Experimental (1865), de Claude Bernard, defendendo o método experimental em Fisiologia, que serviria de base às teorias de Zola. As idéias do alemão Schopenhauer, fundadas num pessimismo extremo: O Mundo como Vontade e Representação, 1818; Da Vontade na Natureza, 1836.
O Realismo vem acionado pelos ventos do positivismo, juntamente com a Revolução Industrial, mudando, completamente, o estilo de vida e de cultura. Ao invés do subjetivismo, propunham a objetividade, amparada na idéia positiva do real; em lugar da imaginação, a realidade contingente. Enquanto, no romantismo, o “eu” era o centro, os realistas já defendiam o não “eu”, a realidade física e o mundo concreto.
Assim com pedia o cientificismo da época, os racionalistas procuravam a verdade impessoal e universal, não a individual, como julgavam os românticos.
Buscam, enfim, comportar-se perante a Arte  como autênticos cientistas.
No plano político, defendiam idéias republicanas e, não raro, socialistas; repudiavam a Monarquia, o Clero e a Burguesia.
Assim, com Taine, o homem deixava-o ser o centro do Universo, como pedia o Romantismo, para se transformar numa engrenagem do mecanismo cósmico e natural.



Realismo no Brasil

O Realismo no brasileiro surge com as publicações: O Mulato, de Aluízio de Azevedo, e, Memórias Póstumas de Bras Cubas, de Machado de Assis, ambos em 1881. Em 1902, com o surgimento de Canaã, de Graça Aranha, e, Os Sertões, de Euclides da Cunha, pode-se considerar encerrada a época realista.
As influências do positivismo chegam ao Rio de Janeiro, onde Seguidores de Comte, reúnem-se. O positivismo, na sua forma ortodoxa ou não, estará presente, inspirando ou determinando posições, ora de indiferença perante a atividade política, ora de intervenção direta nos acontecimentos.
Em 1883, num clima repleto de presságios, estoura a “Questão Militar”, espécie de resposta à “Questão Religiosa”, que deflagrara na década anterior. Por fim, o Senado, compreendendo que a crise se tornaria insustentável, apela ao Imperador, e as restrições foram suspensas em maio de 1887, dando por encerrada a “Questão Militar”.
Enquanto isso, a abolição a escravatura ganha força. Em 1885, a Lei Saraiva-Cotegipe punha em liberdade os escravos sexagenários. A Lei Aúrea é assinada pela Princesa Isabel.
As idéias republicanas vinham ganhando forças em 1870, quando são lançadas as bases do Partido Republicano.
Em 15 de novembro de 1889 chaga ao fim a Monarquia de D. Pedro II. É, enfim, proclamada a República e assumindo o poder o Marechal Deodoro da Fonseca.
Começa, assim, em 1891 a imigração estrangeira de trabalhadores  europeus, principalmente de italianos. Graças a corrente imigratória, o café tem um surto de prosperidade, sobretudo em São Paulo.
Por outro, a Nação presenciava a corrida à Bolsa, a desenfreada especulação, a descontrolada emissão da moeda, a ganância pelo lucro fácil e fictício. Assim com Taunay fixaria em um de seus romances (1890 – 1892).
Surge a Revolução Federalista, em fevereiro de 1893, no Rio Grande do Sul, pelos partidários do governo federal, insatisfeitos com a ditadura de Júlio de Castilhos; e a Revolta da Armada, ocorrida em 6 de setembro do mesmo ano, em repúdio à intenção que o Marechal Floriano, sucessor de Deodoro, manifestara de permanecer no governo até o fim do mandato que vinha preecher.
A abolição foi declarada em 1888, ano ao qual Silvio Romero publicou: Histórias da Literatura Brasileira.
Em 1894, sucedendo ao Marechal Floriano, tornaria-se o 1° presidente civil Prudente de Morais. Seu governo foi marcado pela instabilidade política e pela Campanha de Canudos (1896), desencadeada contra os jagunços reunidos no arraial de Canudos, no sertão baiano, para realizar as promessas místicas de seu líder, Antônio Vicente Mendes Mariel, ou Antônio Conselheiro. Suspeitando que pretendessem atentar contra a República, o governo estadual e federal organizou várias expedições contra os seguidores de Conselheiro, até dizimá-los completamente a 5 de outubro de 1897. Euclides da Cunha, que presenciou a luta, relataria em seu livro: Os Sertões (1902), uma das obras fundamentais de nossa cultura.
Nas últimas décadas do século XIX, a produção literária alcança sua maturidade; “tal se compreende ao cenário histórico, político, sociais e econômicos. E, então, que enfim a Literatura Brasileira inicia sua caminhada para alcançar sua plena identidade, com um nível de literatura autônoma e madura.



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