Exercícios com Respostas: Poema de Carlos Drummond de andrade
1.
Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade abaixo e responda:
a Faça um breve comentário do poema
abaixo. (não esqueça da análise estrutural).
Extraia do poema características do
autor e/ou do período a que ele se refere e explique-as.
Respostas:
"Resíduo", grande clássico de
Carlos Drummond de Andrade, impresso em A rosa do povo. O que fica "é
certo", algumas partículas do viver permaneceram além do querer ou não do
sujeito, ("De tudo ficou um pouco./ Do meu medo. Do teu asco./ Dos gritos
gagos. Da rosa/ ficou um pouco (...)"). Há uma "suspeita" que
está impresso no poema, é o sentimento de um tempo outro, longe daquela
"certeza". Lá, no mundo ainda com cheiro de guerra do autor de
Sentimento do mundo, havia esta imagem: "De tudo fica um pouco./ Não
muito: de uma torneira/ pinga esta gota absurda,/ meio sal e meio álcool";
aqui, com um cheiro de pólvora parecido, porém disfarçado de uma paz
imaginária, a idéia é mais nítida e seca: "Sons de gotas na torneira da
pia...". A gota absurda de "Resíduo" é refletida na tão
cotidiana gota na torneira da pia de "Buquê de presságios" de maneira
completamente inversa. Se por um lado o mundo bipolar preparava a mira para a
Guerra Fria e tudo era, aberto a todos os olhos, absurdo – as duas grandes
potências, EUA e URSS, queriam se exterminar de qualquer maneira na busca cega
e cruel pelo trono do mundo –, por outro, em tempos de vampirismo monetário e
desespero social, o absurdo é o que está guardado por trás do corriqueiro. A
"gota da pia", que tomou conta da atenção do sujeito, é apenas um
sintoma de uma grande mentira que está estampada por todos os lados da
sociedade: a de que tudo está bem. A tristeza, sob a escuridão da dúvida, é o
que está entre o globo ocular e o próximo passo. Drummond encerra seu poema com
a certeza: (...)/ fica sempre um pouco de tudo./ Às vezes um botão. Às vezes um
rato. Também, o poeta vale-se tanto do “estilo
sublime” (padrão elevado da língua culta) quanto do “estilo mesclado”(linguagem
elevada e linguagem coloquial). Os versos, geralmente curtos das obras
inaugurais, tornam-se mais longos. Há um predomínio do verso livre (métrica
irregular) e do verso branco (sem rimas). O humor quase desaparece, o coloquial
é atenuado e um tom grave e solene passa a impregnar os versos.
A
contagem das sílabas métricas do verso:
De/
tu/do/ fi/cou/ um/ pou/co
1 2
3 4 5
6 7
Do/
meu/ me/do/. Do/ teu/ as/co.
1 2
3 4 5
6 7
Dos/
gri/tos/ ga/gos/. Da/ Ro/as
1 2
3 4 5
6 7
Fi/cou/
um/ pou/co.
1 2
3 4
Fi/cou/
um/ pou/co/ de/ luz/.
1 2
3 4 5
6 7
ca/pta/da/
no/ cha/péu.
1 2
3 4 5
6
Nos/
o/lhos/ do Ru/fão
1 2
3 4 5 6
de/
ter/nu/ra/ fi/cou/ um/ pou/co
1 2
3 4 5
6 7 8
(mui/to
pou/co).
1 2
3
O
poeta se comunica por sons. Ele percebe e cria relações entre o que vê,
imagina, sente e pensa. Ele estabelece comparações e contrastes e cria imagens
e analogias, isto é, procura semelhanças e diferenças entre as coisas. A
linguagem poética tem um grande poder de evocação, de criar novas realidades. Notamos,
assim a homofonia (/as/ e /os/) nos versos:
“se cobriu. Ficaram poucas
Roupas,
poucos véus rotos”
A
rima no final das palavras é bastante visível e muito utilizada em poesias,
porém, percebe-se que além desse recurso, o poeta se valeu também da aliteração
de algumas palavras (ainda na mesma estrófe):
“se cobriu. Ficaram poucas
Roupas,
poucos véus
rotos”
Por
meio da aliteração dos fonemas /s/ (com som de s) têm como função a de
prolongar a rima na poesia.
O
poeta faz uso da anáfora nos seguintes versos:
“um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?”
“E sob as ondas ritmadas
E sob as nuvens e os ventos
E sob as pontes”
Por fim, é importante lembrar que
não é o próprio autor que se expressa no poema, mas sim um "Eu
poético" ou "Eu lírico". O Eu poético também é uma criação literária,
uma ficção.
b Para Drummond, a poesia não é apenas um meio
para se comunicar alguma coisa; a poesia é algo que se comunica a si mesma.
Notado no poema que há uma luta entre um lado bom versus o lado mau de cada
situação:
9º
estrofe: “do revólver... de aspirina”.
11º
estrofe: “e sob os espetáculos e sob a
morte escarlate”
A
caracterização geral do universo poético de Drummond é dificílima: a cada nova
publicação, o poeta renova-se e a transfiguração chega a ser tão significativa
que parece carregar consigo uma ruptura com o escrito antes. O ciclo evolutivo
evidencia-se claramente, quando da leitura de seus vários livros, dando-nos a
impressão de livros distintos, de poetas também distintos.
Drummond
é um poeta que apreende o mundo, refundi-o interiormente, devolvendo-nos, dele,
uma macrovisão impressionante. Através de sua obra, vê-se que é o poeta da
solidariedade humana, preocupado com o homem de seu tempo, com o homem
alienado. Às vezes, o que assume uma atitude de analista, procurando vislumbrar
o futuro e, às vezes, consegue fazê-lo de modo otimista, trazendo-nos uma
mensagem de fé numa humanidade renovada. Por outro lado, o poeta manifesta o
seu pessimismo e a sua personalidade reservada, tímida, desconfiada, de um
poeta que nasceu "para ser um gauche na vida"; outras vezes, deixa
transparecer uma fina ironia e humor, utilizando-se também do poema-piada,
herança dos modernistas da primeira fase.
Notamos
a rivalidade entre a natureza e a cidade em, começando citar a natureza até
chegar na cidade:
11º
estrofe: “e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis”
Por
fim, Drummond interioriza-se, manifestando um sentimento de decepção e
amargura, de falta de sentimento da existência ou de solução para o destino. Além
disso, acentua a temática da dúvida, que surge ao final do poema (às vezes...),
num lirismo contido por vezes irônico.
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