O modernismo: um clima estético e psicológico




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 Modernismo surgiu no século XX e foi tido, então, como um código novo, bem diferente aos códigos parnasiano e simbolista. “Moderno” é um vocábulo ambíguo, para não dizer polissêmico. Designa o contemporâneo de quem fala ou escreve.
Mas, nem tudo o que antecipou o Modernismo (Lobato, Lima Barreto) seja considerado Modernista. E o que fora considerado Modernista (Guilherme, Menotti e Oswald e outros) não parecerá, hoje, Moderno.
Podemos dizer que se por Modernismo entende-se exclusivamente uma ruptura com os códigos literários do primeiro vintênio, então, podemos concluir que não houve escritor pré-Modernista (segundo Alfredo Bosi). Assim, Euclides, João Ribeiro, Lima Barreto e Graça Aranha (este independentemente de sua participação ou na semana de 22 – embora este seja o único intelectual da velha guarda empenhado na teorização à vida moderna) não são escritores pré-Modernistas.
Este momento foi o qual aconteceram várias mudanças na literatura, não só no Brasil, mas também na Europa. Juntamente com a semana de 22, vinha também a I Guerra Mundial. A literatura estava em crise, tais notícias foram trazidas por escritores brasileiros, onde conheceram famosos poetas e pintores, alguns futuristas.
O “futurismo” começa a circular no Brasil a partir de 1914.
A Semana de Arte Moderna foi o ponto de encontro de um grupo mais culto.
O fato cultural mais importante, antes da semana de 22, foi a exposição de Anita Malfatti em dezembro de 1917. Foi Monteiro Lobato quem criticou de modo injusto em um artigo intitulado “Paranóia ou Mistificação?”. Este era avesso a todas as correntes estéticas do século XX.
Anita fora defendida primeiramente por Oswald e, pouco depois, por Menotti de Picchia.
De 1917 a 1922, os futuros organizadores da Semana de 22 travaram conhecimento com as várias poéticas de pós-guerra e constituíram-se como um grupo jovem e atuante no meio literário paulista.
Mário de Andrade estreou em 1917, sob o pseudônimo de Mário Sobral, com uma plaquette, Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, versos retóricos dirigidos contra militarismo alemão.
Quanto à poesia inaugural de Oswald de Andrade, padeceu também de um alto grau de hibridismo, parente não só em Os Condenados, romance de estréia, como também nas páginas de crítica em que, por exemplo, saudava como “estética revolucionária”.
De Menotti, que seria um dos mais ativos organizadores da Semana 22, o público já recebera com entusiasmo vários livros: Poemas do Vício e da Virtude (1913), ainda parnasiano; Juca Mulato (1917), poemeto regionalista que, pelo ritmo fácil e o estofo narrativo sentimental, logo se tornou sua obra mais lida e plenamente aceita até pelos medalhões da época; Moisés, poema bíblico, e As Máscaras, ambos de 1917 e ambos viciados pelo decadentismo retórico. E no romance O Homem e a Morte, de 22, o escritor narra as aventuras alegóricas de um artista em São Paulo num estilo romântico e impressionista. Em outros escritores que começaram a sua carreira antes de 22, é ainda mais visível a impregnação de um passado recente. Manuel Bandeira e Ribeiro Couto foram intimistas da última fase do Simbolismo. Bandeiro, com A Cinza das Horas, parecia eco perdido do Decadentismo belga (“Eu faço versos como quem morre”), mas já assimilada, em Carnaval (1919), sugestões mais ousadas dos crepusculares italianos Corazzini e Gozzano, poetas capazes de dissolver em auto-ironia as cadências heróicas de Carducci e D’Annunzio; está nesse livro de transição o poema-sátira “Os Sapos”, que seria recitado numa das noites da Semana, sob os apuros dos assistentes.
Os versos de Ribeiro Couto inseriam-se com toda a pertinência na linha do penumbrismo, da “poesia em surdina”.
Ronald de Carvalho, antes de cultivar o verso livre, foi parnasiano em Luz Gloriosa (1913) e Poemas e Sonetos (1919).
Guilherme de Almeida já oscilava entre o parnasianismo e o Decadentismo, tornando-se muito famoso aos leitores que apreciavam a “medida velha”.
Casimiro Ricardo que, ao contrário de Guilherme de Almeida, iria renovar-se radicalmente sob a influência do Modernismo.
Em 1920-21, apesar de todos os movimentos passadistas, o grupo foi se tornando cada vez mais coeso. Isso se deu quando afirmaram publicamente pela arte nova. Os Modernistas da fase heróica baralhavam as duas linhas. De tal forma, também, o futurismo era visto como uma pedra no sapato dos acadêmicos. Alguns eram vistos como tais, entre eles estão, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro, Brecheret e Anita Malfatti. A crítica acadêmica ainda não sabia discernir a linha pressionista-cubista-abstracionista, que caminhou a construção do objeto poético autônomo, da linha primitivista-expressionista-surrealista, que significava a projeção de tensões inconscientes do sujeito.
Oswald de Andrade estava entre a vida urbana paulista e a estética revolucionária. Já Mário de Andrade mantinha uma crítica mais equilibrada, juntamente com Sérgio Buarque de Holanda, que negam a fatalidade de um “futurismo paulista”.
Mário de Andrade, com o exemplo mais persuasivo: Paulicéia Desvairada (antes da semana de 22); também em: “Mestres do Passado”, onde ele “exalta” e sepulta os maiores parnasianos (Francisca Júlia, Raimundo Correia, Alberto de Oliveira, Olavo Bilac e Vicente Carvalho).
E por fim, tudo já estava prepara para acontecer a semana de 22. Os grupos paulistas, alguns intelectuais do Rio (Ribeiro Couto, Manuel Bandeira, Renato de Almeida, Vila-Lobos, Ronald de Carvalho) e a adesão do prestigioso Graça Aranha significavam que, enfim, o Modernismo poderia lançar-se como um movimento.


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