Leitura: Amor - Clarice Lispector
Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô , Ana subiu no bonde . Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar . Recostou-se então no banco procurando conforto , num suspiro de meia satisfação . Os filhos de Ana eram bons , uma coisa verdadeira e sumarenta . Cresciam, tomavam banho , exigiam para si , malcriados , instantes cada vez mais completos . A cozinha era enfim espaçosa , o fogão enguiçado dava estouros . O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa , olhando o calmo horizonte . Como um lavrador . Ela plantara as sementes que tinha na mão , não outras, mas essas apenas . E cresciam árvores . Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz , crescia a água enchendo o tanque , cresciam seus filhos , crescia a mesa com comidas , o marido chegando co